A história geológica da Bacia do Araripe
se iniciou há aproximadamente 150 milhões de anos, quando os atuais
continentes africano, sul-americano e antártico, além dos territórios da
Índia e da Austrália faziam parte de um mesmo grande bloco continental
denominado de Gondwana.
A região que corresponde atualmente à
Bacia do Araripe se desenvolveu lentamente como uma grande área de
depressão na superfície terrestre, em meio a rochas duras e muito
antigas da região. Nesta grande área de depressão (bacia), os rios
carrearam e acumularam grande quantidade de fragmentos de rochas, areia e
lama proveniente das regiões montanhosas mais altas, que posteriormente
vieram a compor as várias formações rochosas que formam a Bacia do
Araripe.
Esta área deprimida se originou devido a
um progressivo rebaixamento da superfície na região do Araripe, que
lentamente foi alagada, formando lagos rasos e brejos, onde foram
depositados os sedimentos da Formação Brejo Santo. Com o passar do
tempo, os rios ficaram maiores e começaram a trazer mais seixos, areia e
lama das colinas próximas, que se apresentavam cobertas por bosques de
altas coníferas (grupo dos pinheiros). Estes rios também transportavam
troncos caídos desta vegetação que acabavam depositados em meio às
areias e argilas, sendo fossilizados ao longo do tempo geológico, o que
constitui uma importante característica da Formação Missão Velha.
Há 130 milhões de anos, o continente
Gondwana começou a dividir-se em continentes menores, com a ocorrência
de terremotos e acomodação de diferentes áreas emersas. Novamente a
região do Araripe sofreu novo processo de rebaixamento e, mais uma vez,
foi preenchido por água e sedimentos trazidos pelos rios, condicionando
um ambiente de rios entrelaçados, caracterizados por canais rasos e de
alta energia. Este momento ficou registrado nas rochas que constituem a
Formação Abaiara.
Dez milhões de anos mais tarde, quando a
América do Sul já havia se separado definitivamente da África e o oceano
Atlântico Sul estava sendo formado, mais uma vez a região do Araripe
ficou suficientemente baixa para formar novos rios e até um delta. Este
ambiente ficou registrado nos sedimentos da Formação Rio Batateira, que
preservaram valvas de crustáceos (ostracodes), restos de pequenos peixes
e fragmentos carbonizados de vegetais, que vieram a compor o registro
fossilífero deste período.
Com o passar do tempo, formaram-se,
nesta região, planícies alagadas, chegando a um lago de água doce. Neste
lago, a vida prosperou; existiam algas, plantas aquáticas, moluscos,
crustáceos, muitos peixes pequenos, tartarugas, crocodilos e o ambiente
ao redor era ocupado por insetos, pterossauros e animais plumados. No
meio da vegetação baixa dos alagados, existiam rãs, lagartos, aranhas e
escorpiões. Toda esta biodiversidade, que habitava a região há cerca de
110 milhões de anos, ficou registrada em forma de fósseis, nos calcários
laminados do Membro Crato (Formação Santana).
Neste período, o clima era quente e
úmido, mas foi ficando cada vez mais seco, provavelmente pelo aquecimento
global que ocorreu naquela época. A partir daí, o lago diminuiu sua
extensão e quase secou, formando espessas camadas de sal (gipsita) no
fundo, registradas nas camadas do Membro Ipubi (Formação Santana).
Posteriormente, o clima ficou novamente
mais ameno e na região formaram-se lagunas costeiras, provavelmente com
eventuais entradas de águas marinhas e fluviais. Desta época são os
peixes, crocodilos, tartarugas, pterossauros e dinossauros, hoje
preservados como fósseis em concreções calcárias do Membro Romualdo
(Formação Santana). Essa conexão com o mar tornou-se mais forte, ao
ponto das águas marinhas serem o principal componente do antigo lago.
Dessa fase também ficaram os restos de equinóides (grupo da estrela do
mar, serpente do mar e lírio do mar), característicos das camadas finais
do Membro Romualdo. Nessa época, a região era fortemente afetada por
terremotos. Esses eventos acabaram, de alguma forma, fechando essa
conexão com o mar, tornando o antigo lago em uma região pantanosa, como
testemunha o arenito da Formação Arajara.
Por volta de 103 milhões de anos, mais
uma vez toda a região foi secando e voltou a formar um ambiente
predominantemente fluvial, com deposição de areias e seixos, sedimentação
típica da Formação Exu. Essa formação caracteriza a última etapa de
sedimentação da Bacia do Araripe.
Há aproximadamente 65 milhões de anos
houve um grande soerguimento em toda superfície sul-americana, atingindo
fortemente o interior do Nordeste Brasileiro, elevando algumas regiões a
altitudes de até 1.000 m. Com este soerguimento regional, os processos
de erosão do relevo passaram a ter maior intensidade e a superfície foi
sendo rapidamente dissecada, o que resultou na atual geomorfologia da
Chapada do Araripe (Assine, 2007).
A história geológica que é possível
interpretar a partir das rochas do Araripe, mostra como, à escala do
tempo geológico, sempre existiu uma notável variação de climas e
ambientes nesta região.
Fonte:geoparkararipe

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